terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O jogo, o brinquedo e o brincar.

1. APRESENTAÇÃO

Este trabalho O jogo, o brinquedo e o brincar têm a finalidade de enfatizar vários pontos de vistas de diferentes autores que tratam sobre o assunto.
Arce faz uma comparação da pedagogia desenvolvida por Friedrich Froebel com a teoria da atividade defendida por Leontiev, Elkonin e Vigotski, abordando o jogo e o desenvolvimento infantil.
Segundo a autora, o objetivo do artigo é analisar as semelhanças e diferenças entre, Froebel e, por outro lado, Elkonin e Leontiev, no que diz respeito às contribuições que esses autores deram à psicologia do desenvolvimento infantil e à educação pré-escolar.
Já o autor Guimarães, fala sobre o brincar e a brincadeira, sobre teorias que estão preocupadas com o comportamento lúdico, o prazer e o divertimento no ato de brincar, o jogo como motivador do desenvolvimento da capacidade motora e a importância da música.
Baseando-se em alguns textos utilizados no Programa de Curso da disciplina Desenvolvimento e Educação Infantil, ministrado no 1º semestre de 2009 pelo Prof. Dr. Roberto Carlos Miguel.

2. O JOGO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA TEORIA DA ATIVIDADE E NO PENSAMENTO EDUCACIONAL DE FRIEDRICH FROEBEL.

Segundo Arce, em toda a obra de Froebel há uma constante comparação do desenvolvimento da criança com o das sementes; a criança é como uma semente a ser cultivada. Para Froebel o princípio a partir do qual todos os homens seriam iguais se encontrava na relação entre infância e Natureza. Somente conhecendo as relações entre infância, natureza e Deus é que poderíamos presentear cada indivíduo com o autoconhecimento e a aceitação de seu lugar em nossa sociedade. Essa tríade formaria o que Froebel denominava “unidade vital”, na qual a educação deveria estar alicerçada para poder conduzir o indivíduo ao desenvolvimento pleno.
A autora assinala que, para a realização do autoconhecimento com liberdade, Froebel elege o jogo como seu grande instrumento, juntamente com os brinquedos. O jogo seria um mediador nesse processo de autoconhecimento, por meio do exercício de exteriorização e interiorização da essência divina presente em cada criança, levando-a assim a reconhecer e aceitar a “unidade vital”. Segundo ele o jogo seria também a principal fonte do desenvolvimento na primeira infância, que para ele é o período, mais importante da vida humana, um período que constitui a fonte de tudo o que caracteriza o indivíduo, toda sua personalidade. As brincadeiras desenvolvem as características humanas das crianças, auxiliando meninos e meninas a encontrarem e exercerem desde cedo o papel que lhes cabe na sociedade.

“Na primeira infância as brincadeiras seriam mais centradas na atividade, no movimento, no início do processo de exteriorização da criança. No período chamado por Froebel de infância, a brincadeira seria mais grupal que no período da primeira infância. Esse caráter grupal da brincadeira na infância produziria o desenvolvimento moral das crianças e as prepararia para a convivência em harmonia.” (ARCE, 2004, p. 3).

“Na obra Pedagogia dos jardins-de-infância (1917), Froebel apresenta-nos os seus brinquedos criados para auxiliar a brincadeira infantil sem ferir seu desenvolvimento natural. Os brinquedos criados para esse fim foram chamados de “dons”. Froebel assim chamou esses brinquedos, ou materiais educativos, porque eles seriam uma espécie de “presentes” dados às crianças, ferramentas para ajudá-las a descobrir os seus próprios dons, isto é, descobrir os presentes que Deus teria dado a cada uma delas. Com esses brinquedos Froebel cristalizou importantes concepções a respeito do jogo, como por exemplo: ele observou que o jogo só funciona se as regras são bem entendidas; a continuação do jogo requer sempre a introdução de novos materiais e idéias; por essa razão existem muitas ocasiões nas quais o adulto deve brincar junto com a criança para auxiliá-la e manter vivo seu interesse. Todos os jogos de Froebel que envolvem os “dons” sempre começavam com as pessoas formando círculos, dançando, movendo-se e cantando. Dessa forma elas atingiriam a perfeita unidade. Froebel percebeu também, por meio desses jogos e brincadeiras, a grande força que os símbolos possuem para a criança. Assim Froebel elegia a brincadeira e os brinquedos como mediadores tanto no processo de apreensão do mundo pela criança, por meio da interiorização, como também no processo de conhecimento de si mesma pela criança (autoconhecimento), por meio da exteriorização. Por essa razão o criador dos Kindergarten entendia que os brinquedos e as brincadeiras não poderiam mais ser escolhidos ao acaso. Eles deveriam ser estudados para que se pudesse oferecer às crianças as atividades mais adequadas ao seu nível de desenvolvimento.” (ARCE, 2004, p.4).

Segundo Arce, ao se fazer uma comparação entre Froebel de um lado e, de outro, Elkonin, Leontiev e Vigotski, o foco se concentra principalmente nas distintas concepções a respeito de ser humano e de sociedade e, conseqüentemente, nas distintas concepções a respeito do jogo e do desenvolvimento infantil.
Arce diz que, Elkonin, discute a complexa questão da divisão do desenvolvimento infantil em estágios de acordo com a faixa etária ou com a aquisição de determinados patamares de desenvolvimento cognitivo. Entendia que a escola deveria estar compromissada com a construção dessa sociedade.
A autora afirma que, apoiados na concepção materialista-dialética de homem e sociedade, Elkonin, Leontiev e Vigotski desenvolveram uma corrente da psicologia que estudou o desenvolvimento humano e analisou o papel do jogo na educação e no desenvolvimento de crianças menores de seis anos. Para eles, as condições culturais, econômicas, sociais, históricas são fatores decisivos neste desenvolvimento. Não acreditavam em uma essência humana de origem do homem divina e espiritual, para eles fundamentar os estudos sobre o desenvolvimento humano nesse tipo de crença seria colocar-se longe da ciência e do pressuposto marxista de que o ser humano constrói a sua própria história.
Arce assinala que, Vigotski afirmava que o desenvolvimento infantil é um processo dialético, a passagem de uma fase a outra é marcada não pela simples evolução, mas por uma revolução que implicaria mudanças qualitativas na vida da criança. Esse processo não pode ser separado assepticamente da inserção da criança na sociedade e do reflexo desta nas necessidades da criança, em seus motivos e em seu desenvolvimento intelectual.
Segundo Arce, os autores Leontiev e Elkonin, ambos apoiados também por Vigotski, a brincadeira não é uma atividade instintiva na criança, mas a brincadeira é objetiva, pois ela é uma atividade na qual a criança se apropria do mundo real dos seres humanos da maneira que lhe é possível nesse estágio de desenvolvimento. Afirmam que a fantasia, a imaginação é um componente indispensável à brincadeira infantil, pois possibilita à criança se apropriar do mundo dos adultos a despeito da impossibilidade de a criança desempenhar as mesmas tarefas que são desempenhadas pelo adulto.

“Leontiev afirma claramente que a ruptura entre significado e sentido estabelecida durante a brincadeira é abandonada imediatamente assim que a criança deixa de brincar. Isso quer dizer que a criança em seu cotidiano age movida pela realidade objetiva e não se deixa dominar pela fantasia existente no momento da brincadeira.” (ARCE, 2004, p. 6).

“A brincadeira, segundo Vigotski (1984, p. 117), é a atividade principal porque "cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança", ou seja, no brinquedo a criança realiza ações que estão além do que sua idade lhe permite realizar, agindo no mundo que a rodeia tentando apreendê-lo. Neste ponto o papel da imaginação aparece como emancipatório: a criança utiliza-se da imaginação na brincadeira como uma forma de realizar operações que lhe são impossíveis em razão de sua idade. A criança reproduz ao brincar uma situação real do mundo em que vive, extrapolando suas condições materiais reais com a ajuda do aspecto imaginativo. Para que a criança possa tornar real uma operação impossível de ser realizada na sua idade, ela utiliza-se de ações que possuem um caráter imaginário, o faz-de-conta entra em cena, gerando uma discrepância, segundo Leontiev (1988), entre a operação que deve ser realizada (por exemplo, andar a cavalo) e as ações que formam essa operação (por exemplo, selar o cavalo, montar no cavalo etc.). Como a criança não pode usar um cavalo real, ela utiliza-se de um cabo de vassoura, por exemplo, como se este fosse seu cavalo. Isso ocorre porque a criança tem como alvo o processo e não a ação.” (ARCE, 2004, p. 6).

“Leontiev (1988, p. 126) afirma que na brincadeira todas as operações e ações que a criança realiza são reais e sociais; por meio delas a criança busca apreender a realidade. Leontiev apresenta um exemplo de crianças brincando de vacinação contra a varíola. Nessa brincadeira as crianças imitavam a seqüência real da ação realizada para a vacinação. Primeiro passava-se álcool na pele e depois era aplicada a vacina. O adulto pesquisador que observava essa brincadeira propôs às crianças a utilização de álcool de verdade, o que foi recebido com entusiasmo pelas crianças. Mas então ele disse que precisaria pegar o álcool em outra sala e sugeriu que elas fossem aplicando a vacina enquanto ele iria buscar o álcool e deixassem para passar o álcool ao final do processo. As crianças não aceitaram a sugestão e preferiram não usar álcool de verdade, mas manter a seqüência real da ação. Desse exemplo Leontiev extrai a seguinte conclusão: Em um jogo, as condições da ação podem ser modificadas; pode-se usar papel, em vez de algodão; um pedacinho de madeira ou um simples pauzinho, em vez de agulhas; um líquido imaginário em vez de álcool, mas o conteúdo e a seqüência da ação devem, obrigatoriamente, corresponderá situação real.” (ARCE, 2004, p. 6-7).

Arce assinala que, para Elkonin, o jogo é um dos mecanismos dentro e fora da escola capazes de auxiliar a criança a apreender o conjunto das riquezas produzidas pela humanidade, gerando revoluções no desenvolvimento infantil.
Através do estudo apresentado por Arce, Froebel aponta uma visão romântica e naturalizante tanto do desenvolvimento infantil quanto do jogo, ao passo que a escola soviética da psicologia se calca no materialismo histórico-dialético. Froebel apresenta uma visão do homem e sociedade centrada em uma concepção mística, subjetivista, naturalizante e alienada; e Leontiev, Elkonin e Vigotski, buscam compreender o homem como protagonista e fruto da história visando a propiciar a esse homem a apreensão deste movimento e das riquezas produzidas.

3. O BRINQUEDO E O BRINCAR: FATORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

Segundo Guimarães, há divergências a respeito do significado do jogo, embora seja consensual a opinião a respeito do seu valor. Por outro lado, o ato de brincar, o ato lúdico, é visto sob as mais diversas perspectivas de interpretação.
Guimarães cita Courtney (1980) que diz que, surgem várias teorias, todas elas preocupadas em justificar o comportamento lúdico. Surgem as teorias fisiológicas: Teoria da recreação (Mouritz Lazarus); a Teoria do Relaxamento (Patrick); Teoria da Recapitulação (G. Stanley-Hall).
A Teoria da Recreação concebe o jogo como fator de animação e restauração das forças vitais do indivíduo, tanto em seus aspectos físicos quanto mentais. A Teoria do Relaxamento, mais preocupada com o jogo adulto, está calcada na idéia de ação livre e espontânea desfrutada pelo indivíduo. É uma contraposição aos processos fatigantes do trabalho. A Teoria da Recapitulação remete ao conceito de hereditariedade.
Guimarães ao comentar de modo geral as teorias que tentam explicar o jogo, o brinquedo e a brincadeira, cita Huizinga que destaca que, umas teorias se preocupam em apontar como origem e fundamento do jogo a descarga de energia vital, outras teorias oferecem a satisfação de “instinto de imitação” ou “necessidade de distensão”. Outras mencionam o jogo como algo preliminar, preparatório para as “tarefas sérias’ da vida. Há, também, aquelas preocupadas em relacionar a atividade a um “exercício de controle” do indivíduo; há as que enfatizam o desejo de domínio e competição etc.

“A alegria, este estado de espírito desprovido de quaisquer preocupações práticas e objetivas, é um signo constante nos jogos, brinquedos e brincadeiras. Isto é, os adultos costumam a comentar a respeito da felicidade das crianças durante o ato de brincar. Criança que brinca é criança feliz!” (GUIMARÃES, 2003, p. 76).

Guimarães diz que, o prazer e o divertimento completam o ato de brincar, o desenvolvimento infantil pleno, em situação normal, ou seja, quando a criança não está submetida a qualquer processo repressivo, está sempre calcado neste binômio. Coincidentemente o drama (conflitos e deveres) é vivenciado diariamente no espaço escolar. E o jogo, o brinquedo, a brincadeira, enfim, as manifestações lúdicas da criança, nem sempre são vistos como radicalmente necessárias.
Segundo Guimarães, o ato de brincar, a brincadeira, permite-lhe uma vivência cultural plena, sadia, gratificante e prazerosa. Isso ocorre quando o educador, seguro de seus propósitos e dominando a metodologia de trabalho, propõe atividades específicas para cada faixa etária; escolhe criteriosamente os conteúdos adequados a seus objetivos e estabelece um repertório de brincadeiras apropriadas a cada fase do desenvolvimento da proposta pedagógica.
O autor propõe a utilização dos jogos, brinquedos e brincadeiras como recurso para o desenvolvimento da capacidade motora e destaca a importância da música para o desenvolvimento de atividades com crianças.
Diz que, se trocarmos os substantivos jogo e brinquedo pelos verbos correspondentes jogar e brincar, perceberemos que estamos diante de ações. Jogar e brincar são necessariamente atividades que exigem movimento. Podemos concluir que na realização da brincadeira temos uma atuação. Quando a palavra brinquedo é usada no sentido de ação, denota não mais o objeto e, sim, a relação dinâmica, a ação lúdica. Passa a ter o mesmo significado de jogo ou brincadeira.
Segundo Guimarães, em termos de educação, os jogos, brinquedos e brincadeiras podem servir como meio para uma melhor adaptação e integração do indivíduo ao seu ambiente social. O jogo é o resultado de ação. Esta ação, por intermédio de movimentos de caráter físico ou intelectual, conduz ás idéias de competição e colaboração. Em contrapartida, a ação, elemento primordial para a realização do jogo, brinquedo ou brincadeira provoca no oponente uma reação. A aceitação de regras é uma reação inteligente e pré-determinada, constituindo-se, assim, uma atitude social. O objetivo final do jogo é a “vitória”, o prêmio pela superação de obstáculos.
Para Guimarães, participar de uma brincadeira significa integrar-se completamente ao seu contexto. Enquanto atividade de caráter lúdico, o jogo pode ser considerado um passatempo, mas não podemos dizer que não se trata de uma atividade séria. Quando observamos um grupo de pessoas brincando, podemos comprovar, pela atitude que assumem, notadamente no que diz respeito ao cumprimento das suas regras, a seriedade com que encaram a atividade. Sob a ótica do praticante, o momento de brincar exige alto grau de concentração e completa disposição.
Segundo o autor, nos jogos, brinquedos e brincadeiras, muitas vezes, a música é imprescindível, seja na forma de melodias cantadas em solo ou em conjunto, seja na forma de marcação rítmica. As brincadeiras com música oferecem muitas oportunidades de desenvolvimento das potencialidades das crianças.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARCE, Alessandra. O jogo e o desenvolvimento na teoria da atividade e no pensamento educacional de Friedrich Froebel. Cad. CEDES, Campinas, v. 24, n. 62, 2004.
GUIMARÃES, J. G. M. O Brinquedo e o Brincar: Fatores de Desenvolvimento Humano, In: CADERNOS DE FORMAÇÃO: CADERNO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: PROJETO PEDAGOGIA CIDADÃ, ORG. GUIMARÃES, J.G.M. São Paulo: UNESP. Pró-Reitoria de Graduação, 2003.

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